Carta de Alfredo Pimenta para Oliveira Salazar
Nível de descrição
Documento simples
Código de referência
PT/AMAP/FAM/AALP/01-02-02/002-017/10-29-6-7-51
Tipo de título
Atribuído
Título
Carta de Alfredo Pimenta para Oliveira Salazar
Datas de produção
1942-09-05
a
1942-09-05
Dimensão e suporte
5 f. (30 x 21 cm); papel
Âmbito e conteúdo
A censura e o facto de Oliveira Salazar não o defender.
Assinaturas
Alfredo Pimenta
Condições de acesso
Comunicável
Condições de reprodução
A reprodução deverá ser solicitada por escrito através de requerimento dirigido ao responsável da instituição.
Cota atual
10-29-6-7-51
Notas de publicação
Referência bibliográficaPublicada in: SALAZAR E ALFREDO PIMENTA: Correspondência, 1931-1950 / Prof. Manuel Braga da Cruz .[Lisboa]: Verbo, 2008, pp. 172-173.
Transcrição
1942 5-9 carta devolvida n.º 432 Casa da Madre de Deus - Guimarães Sábado Ex.mo Senhor Presidente do Conselho: recebi há dias a carta de que envio cópia a V.ª Ex.ª. Têm-me escrito dezenas de cartas a ameaçar-me, em consequência do que algo que digo e escrevo. E até em consequência do aplauso, às vezes, tributado a V.ª E.ª. É dos ??? e do tempo. Sigo adiante. Mas em resultado do que de mim se diz ou escreve é a primeira vez. Há uma Censura em Portugal que espia as minhas palavras, pesa os meus pensamentos, espreme as minhas expressões, e, sem respeito nenhum pela minha obra de doutrinador, me faz calar, quando lhe apetece. É o arbítrio irresponsável. Mas esta mesma Censura concede livre trânsito a uma coisa nojenta que me difama e injuria, a tal ponto que provoca reacções como essa que se revela na carta de que V.ª Ex.ª possui a cópia! Não deixou, essa Censura, que eu comente, com inteligência e compreensão, as palavras de V.ª Ex.ª - onde não há, evidentemente, sombra de injúria, de desrespeito, de agressão. Mas permite que a minha honra e o meu nome que já não são apenas meus, mas pertencem também a filhos e netos, sejam arrastados pela lama das sarjetas, na boca de um louco idiota! Que eu sofra as consequências do que digo e escrevo, compreende-se; está certo, porque do que eu escrevo e digo, só eu sou juiz. Mas que, amanhã, a bala dum desvairado me atravesse a nuca, sugestionado, pelo que sobre mim se escreve, o desvairado que a dispara - é mais sério; e a responsabilidade cabe inteira à Censura que autorizou a propagação das infâmias, e a V.ª Ex.ª que não intervém convenientemente junto dela. O Rei D. Carlos e o Príncipe Real, Sidónio Pais e os desgraçados do 19 de Outubro foram vítimas de acções semelhantes à que pratica o Arruela. Insultado, posso ter injuriado os meus insultadores. Nunca difamei ninguém. Posso ser cru, violento nos meus ataques, mas a difamação é outra coisa. Outro dia escrevi que os Presidentes da República em Portugal até 1926 não tinham preparação para o governo. A Censura eliminou esta observação inocente e verídica. Mas permite que um miserável sem honra me acuse de querer entregar Portugal à Alemanha! Não quero perturbar o espírito de V.ª Ex.ª dizendo-lhe aqui claramente as acusações de que é vítima nas conversas de salões ou jornais. Não pense V.ª Ex.ª que é tudo cor de rosa. E que V.ª Ex.ª entende que essas acusações são prejudiciais, prova-o a Censura. Ora a honra e o bom nome dos Governantes não valem mais nem merecem mais protecção do que o bom nome e a honra dum homem como eu. Não li o livro; não sei se V.ª Ex.ª já teve vagar de o ler O que as pessoas me comunicaram, e o que essa carta de que envio a cópia a V.ª Ex.ª me revelam chega. Não me queixo — que seria indigno de mim fazê-lo. Nada peço, - que mais indigno seria. Revolto-me e protesto. Eu não lhe merecia, Senhor Presidente do Conselho, pelo que sou, e pelo que lhe tenho feito, esta atitude. De V.ª Ex.ª attº v.or A.P.
Relações com registos de autoridade